Título original: Je ne suis pas un homme facile Direção: Eleonore Pourriat Je ne suis pas un homme facile, dirigido pela Eleonore Pourriat, parece ser fruto do amadurecimento de uma ideia já explicitada alguns anos antes pela diretora e roteirista em seu curta Majorité Opprimée (Maioria Oprimida), onde apresenta um dia na vida de um homem que sofre opressão sexista em um mundo matriarcal. Eu não sou um homem fácil apresenta a visão invertida da nossa sociedade patriarcal, ao bater a cabeça em uma placa na calçada, um homem machista se vê em uma realidade alternativa, onde as posições de maior importância na sociedade são ocupadas por mulheres, formando um sistema matriarcal onde os homens são oprimidos e o sexo feminino é tido como o sexo forte. O filme trabalha um tema delicado do nosso tempo, a opressão sentida pelas mulheres é talvez a mais historicamente difícil de se extinguir. O surgimento do feminismo no século passado trouxe à tona um debate sobre igualdade que permeia até os dias de hoje, com avanços, é verdade, mas que ainda não são o suficiente. O primeiro elemento a se destacar no filme é o uso do termo “masculista” para se referir aos homens que, naquela realidade, lutam pela igualdade. Masculista não é o mesmo que machista e a Eleonore deixa isso como um recado ao que insistem em dizer que o movimento feminista anseia pela superioridade das mulheres, ao alternar entre uma sociedade patriarcal e matriarcal, a diretora força a percepção de que a superioridade de um sexo sobre outro, qualquer que seja, causa sofrimento por si só. No entanto, apesar da clara e importante mensagem, o filme deixa a desejar em relação ao seu roteiro, tudo acontece rápido demais ou muito lentamente, sem um equilíbrio narrativo. Os clichês, que são sim necessários até para o tom didático que o filme possui, aparecem de maneira repetitiva, o que torna a narrativa monótona e caricata até o ponto de gerar desinteresse pela sua continuidade. Dois outros destaques que faço são sobre duas sequências que me chamaram a atenção, uma em que é apresentado ao personagem Damien (Vincent Elbaz) uma “boate gay” na realidade matriarcal, a cinematografia que até então havia seguido uma linha comum, passa a mostrar planos assimétricos e uma iluminação que imprime um quê de fantasia e um caráter alternativo e estranho ao ambiente em que os personagens se inserem, ao chegar à pista de dança e Damien constatar que trata-se de um ambiente onde os homens e mulheres vestem roupas iguais as que vestimos na nossa atual realidade, o efeito provocado pela marginalização do que é normal pra nós é maravilhosamente impagável. Outra sequência de destaque seria mais uma das que mostra a inversão de papéis nesse “outro mundo”, porém dessa vez através de uma referência à antológica cena do filme O Desprezo, de Jean-Luc Godard, onde Eleonore inverte a posição do homem e da mulher no famoso plano da cama e expressa suas referências na Nouvelle Vague. O Desprezo (1963) Jean-Luc Godard Eu não sou um homem fácil (2018) Eleonore Pourriat Por fim, apesar do filme de Eleonore Pourriat a meu ver falhar em alguns aspectos, é inegável a importância da discussão que ele traz sobre o valor da igualdade entre homens e mulheres, tanto para a França, que é um país historicamente à frente em questão de movimentos sociais, quanto principalmente, para o resto de nós.
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Amante dos filmes de terror clássicos e de um trash mal feito, é cinefotógrafo e tem o hábito de ver um filme no mínimo duas vezes: uma analisando o geral e outra analisando apenas a fotografia. Além, Igor é membro fundador da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN).
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