Título original: Hereditary Direção: Ari Aster O terror no séc XXI Os fãs de terror vivem de buscar no séc XXI algo tão bom quanto O Exorcista foi para o seu século. Até então, A Bruxa ocupava o cargo de melhor terror do novo milênio e, mesmo com bons filmes como Corra! e o remake de Suspiria, dirigido pelo talentoso Luca Guadagnino (Me chame pelo seu nome), parecia imbatível pelo menos a curto prazo, parecia. O filme Ari Aster teve sua estreia na direção de um filme longa metragem de forma brilhante, Hereditário conta a história da conturbada convivência da família Graham, que acabara de perder a sua misteriosa avó, perda sentida principalmente pela jovem Charlie (Milly Shapiro), por quem a matriarca tinha um apreço singular, sua mãe, Annie (Toni Collette), tenta manter uma boa relação com o filho Peter (Alex Wolff) enquanto percebe que as coisas ficam cada vez mais estranhas com o passar do tempo após a morte da sua mãe. Um novo “Exorcista”? É comum existir a expectativa do nascimento de um novo “Exorcista” sempre que é anunciada a estréia de um filme de terror e por muito tempo se apostou no caminho do clássico de William Friedkin para alcançar o hall da fama infernal do gênero, até que, com algumas referências ao maior clássico do horror e uma boa dose de O bebê de Rosemary, Hereditário chega lá com um roteiro e direção sofisticada que constrói a narrativa no tempo certo e insere gradualmente sua atmosfera diabólica até atingir seu ápice, uma verdadeira aula de como o terror sobrevive (e muito bem, obrigado) sem os chatos jumpscares presentes à exaustão no terror em sua forma mais comercial. A fotografia de Pawel Pogorzelski se destaca pela perfeita inserção de elementos narrativos, quando combina a cor luz contrastada com a paleta escura e morta, apontando muitas vezes de onde o perigo vem ou que sentimentos os personagens assumirão a partir de determinado ponto. Destaque para o vermelho em todas as suas intensidades, um verdadeiro show de desenho de luz. A atuação do jovem Alex Wolff, que encarnou Peter Graham na película, é uma bela surpresa, quando lhes são exigidos movimentos sutis e bruscos, os faz de uma maneira transitoriamente perfeita, mantendo as características do personagem bem definidas até o fim. Existe um ponto negativo? O final poderia a meu ver ser menos explicativo, com um diálogo mais simples que não escancarasse o que já ficou subentendido no decorrer da película, que deixasse essa parte para o raciocínio do público. No entanto, nada que estrague a experiência de assistir ao que, para mim, é o maior terror do séc XXI e um dos maiores de todos os tempos.
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Amante dos filmes de terror clássicos e de um trash mal feito, é cinefotógrafo e tem o hábito de ver um filme no mínimo duas vezes: uma analisando o geral e outra analisando apenas a fotografia. Além, Igor é membro fundador da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN).
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