Título original: A quiet place Direção: John Krasinski No ano passado tivemos um filme inovador quanto ao seu som, Dunkirk, cuja mixagem rendeu um oscar. Um lugar silencioso tem tudo para ser comparável à Dunkirk no quesito inovação, quando imerge o espectador em um universo de silêncio onde até mesmo o som de um tecido arrastando-se no chão pode ser um elemento assustador. Um lugar silencioso é uma película que expõe a sobrevivência dramática de uma família em um local tomado por criaturas, que não se sabe de onde vêm, cegas porém sensíveis a qualquer som emitido ainda que à distância. O fato de não saber o lugar de origem das criaturas é um incentivo à imaginação de quem assiste, o que contribui para a identificação maior com a história, alguns podem imaginar que sejam extraterrestres, outros que sejam frutos de experiências de cientistas malucos da área 51, tudo de acordo com as suas referências e gostos pessoais, na minha opinião é um dos pontos mais fortes do filme. O que se ouve: O ponto que rege o filme, o silêncio, é muito bem trabalhado em parceria com a mixagem nos momentos em que o som se faz presente. O primeiro ato, que apresenta os personagens e ambienta quem assiste naquele universo, é de um silêncio sepulcral que firma de imediato a preocupação em emitir o mínimo de som possível, a introdução é de suma importância para a impressão de tensão que o silêncio provoca, pois cada barulho passa a ser mais intenso, desde brinquedos barulhentos à pilha, ao atrito de grãos de milho. Destaque especial também para a trilha de Marco Beltrami, compositor dos filmes Pânico, e sua semelhança com as batidas do coração, que cria todo um sentimento de ansiedade. O que se vê: A direção de arte imprime muito bem o caráter apocalíptico que o filme possui, seu ponto de destaque são as diversas folhas de jornal com manchetes sobre as criaturas causadoras de todo o mal, que dão informações preciosas para a produção de sentido sem comprometer a parte imaginativa do espectador e sem que os personagens tenham que explicar. A fotografia é escura, mesmo de dia o rosto dos personagens é tomado por uma sombra que parece os acompanhar, como as criaturas que estão sempre à espreita. destaque para o uso das luzes externas por parte da família para enviar recados à distância, a luz vermelha utilizada para sinalizar o perigo máximo tem uso além do que foi destinado pelo roteiro, imprime a continuidade do perigo mesmo após a cena que caracteriza seu uso principal. As criaturas aparentemente guardam referências dos lickers do Resident Evil com uma pitada de Cloverfield Monstro e sua estrutura auditiva quando mostrada é um exemplo do bom uso do CGI no terror e ficção científica. Observações finais: Destaco por último o uso da língua de sinais em boa parte do filme e a importância da personagem surda para o contexto, um lembrete da existência de um grupo marginalizado da população. Um lugar silencioso é um exemplo de como o terror pode inovar, de como pode evoluir para algo que fuja da mesmice que está na cabeça dos preconceituosos com o cinema de gênero.
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Amante dos filmes de terror clássicos e de um trash mal feito, é cinefotógrafo e tem o hábito de ver um filme no mínimo duas vezes: uma analisando o geral e outra analisando apenas a fotografia. Além, Igor é membro fundador da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN).
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